Estranhamento

Uma estranha Clarice me olhou hoje no espelho
Tinha hoje menos cabelos, mais células novas
E mais horas somava-se aos seus anos vividos.
Uma estranha, a qual me deparei no espelho
Tinha a mente também mais esclarecida
Pois somou-se a ela ontem um livro, um filme Norueguês e algumas matérias de jornais
Mas sabe ela, ainda há muitos mistérios a lhe esperar…
Acostumei-me com ela no decorrer do dia
Mas sei que no intervalo entre um minuto e outro ela está a mudar
Aos que perto estão eu digo, não esperem a mesma Clarice, que a semanas, meses ou talvez a anos você viu passar
Pois nem mesma eu me deparo com ela, está sempre a mudar!

[Escrito em 29/11/2012 – quinta-feira ]

Perceber…

Uma senhora sentou-se, estava com uma expressão meio esbaforida. Ver um banco vago no metrô aquela hora da manhã de uma quarta- feira em São Paulo é quase um oásis para quem acordou, levantou e ainda sonolento dirigiu-se para o trabalho.
As pessoas não prestam muito atenção umas às outras numa grande cidade que se movimenta muito rapidamente, já as 7 horas da manhã.
Mas aquela senhora chamou- me a atenção. Parecia que mal podia esperar para sentar e…
E então abrir sua bolsa, retirar um saquinho e de dentro deste uma embalagem tipo ‘blister’, rasga-lá freneticamente, agarrar do seu interior uma pinça de sobrancelhas e na confiança da sonolência que causa a falta de percepção e atenção das pessoas umas pelas outras, retirar um ‘fiozinho’ do seu bigode!
Ah, uma cena corriqueira, normal, mas chamou me a atenção como já disse. Senti o desejo de esboçar um sorriso, e o fiz… Afinal, o sorrir foi expontâneo e despertou-me da mesmice e da falta de percepção a que nos submetemos nesses ‘dias comuns’ de horários, prazos, índices, alíquotas e todo e tanto trabalho…
Mas, era somente o começo de uma diferente manhã voltada a reparar além de mim mesma e dos meus pensamentos e programações para aquele dia já tão pré definidos… Sim, ao sair da estação, emergindo novamente ao solo, onde passaram a noite os sem teto ou meramente denominados mendigos, um cão despertava feliz, pois reparava que ali no chão ao seu lado, seu dono esfarrapado ainda dormia quieto e calado…
E num desejo de desejar bom dia e esbanjar alegria, sacudia com a boca uma tira, uma tira de tecido, encontrada no lixo, correndo, rodopiando e esbanjando felicidade, de notar que o vento retribuía o esforço de suas patas que agilmente corriam fazendo a tira flutuar e no ar formava um desenho sinuoso, alegre e singular, pouco importando que algum humano, nem mesmo seu dono, fosse notar…
[Escrito em 19/04/2013 – sexta-feira]